sábado, novembro 13


Da República da Consciência


Por Seamus Heaney


Quando aterrissei na república da consciência

Estava tão silencioso quando os motores pararam,
eu podia até escutar um maçarico-rei, bem alto, acima da pista de decolagem.
Na Imigração, o oficial era um velho homem, que fabricou uma mochila com seu casaco caseiro, e mostrou-me a foto de meu avô.
A mulher na Alfândega solicitou-me que declarasse as palavras de nossos curandeiros tradicionais e seus encantamentos para curar estupidez e prevenir mau-olhado.
Nenhum porteiro. Nenhum intérprete. Nenhum taxi.
Você carrega seu próprio fardo, e bem cedo
seus sintomas de rastejantes privilégios desaparecem.
O nevoeiro é um temido presságio por lá, mas relâmpagos indicam uma bondade universal e pais penduram crianças enfraldadas em árvores durante as tempestades.
Sal é o seu precioso mineral. E conchas são
ajustadas às orelhas por ocasião dos nascimentos e funerais.
A base de todas as tintas e pigmentos é a água do mar.
Seu símbolo sagrado é um barco estilizado.
A vela é uma orelha, o mastro é uma caneta inclinada.
O corpo do barco tem a forma de uma boca, a quilha é um olho arregalado.
Na sua inauguração, líderes públicos
devem jurar manter leis não escritas e chorar
para expiar por sua presunção de se manter nos cargos –
e confirmar sua fé de que toda a Vida brota do sal,
nas lágrimas que o deus-do-céu lacrimeja
após haver sonhado que a solidão era sem fim.
Eu regressei desta frugal república
com meus dois braços alinhados, a mulher da Alfândega insistindo em que minha permissão de entrada era eu mesmo.
O velho homem levantou-se, encarou-me longamente, e disse que já era de conhecimento oficial que agora eu era um cidadão com dupla nacionalidade.
Ele, então, desejou-me que, quando chegasse à minha casa, considerasse a mim próprio um Representante, e falasse em seus nomes em minha própria língua.
Suas embaixadas, ele disse, estavam em todos os lugares, mas operavam independentemente
e nenhum embaixador seria eternamente necessário.

PS : recebi esse poema semana passada.
Minha tradução é livre.
Pura sacanagem: o original veio em gaélico. O Google me levou pro inglês. E lhes entrego em castiço português. Foi uma “amenização” para a vitória da Dilma, como apregoou o remetente.
Espero que alguns apreciem...

4 comentários:

atrásdoarmário disse...

Seamus Heaney, nascido em Móssbawn, Londonderry Co, NI, em 13/04/1939.
Nobel de Literatura em 1995.
Esse poema foi uma contribuição ao programa de direitos humanos instituido pela ONU uns tempos atrásdoarmário.

Paula Tejano disse...

Agora ta fazendo a coisa certa... botando para fora...

Parabens

Anônimo disse...

no que se refere ao poema é bom, e no que se refere a depressao espero que tenha superado e volte com seus posts fodasticos, no que se refere ao flusao e todos os fluminenses vao tomar no cu

Anônimo disse...

Então psicow, vai voltar ou vai continuar nessa bosta do viuvas?